PAI

É sempre quando ouço as chaves do lado de fora da porta. Sei que ele está a chegar, fico ansiosa e com medo ao mesmo tempo. Medo que ele arranje confusões outra vez. Mas não. Por estranho que pareça, não se tem manifestado à mais de uma semana. Sim, fico feliz, mas não é aquela felicidade. Sabe se lá se não muda de personagem já amanhã? Não sei, não sei de nada. Ele chega sempre com o mesmo discurso: Entra pela porta do quarto e dá-me um beijinho na testa, e pergunta, "então, como foi o teu dia hoje? Estou tão cansado". é sempre assim. e isso magoa-me. magoa-me vê-lo depois da meia-noite. magoa-me que só o veja de manhã e à noite já estou a dormir quando chega para me dar um beijo.. magoa-me que não tenha tempo para mim. Ele próprio o diz com as lágrimas nos olhos. "tenho muita pena filha, mas é o meu trabalho." diz me sempre o mesmo. Eu compreendo, mas sinto saudades dele. de estar com ele, de ter dias de "Pai & Filha". Eu sei que ele está magoado com tudo. "Estou revoltado." já o diz com as lágrimas a caírem-lhe pela face. Eu não sei nunca o que responder, não quero magoá-lo, não quero que sofra mais. Mas sei que se respondesse lá viriam as lágrimas. "Já viste quanto tempo passo no café?Gostava de ter tempo para tudo, mas principalmente para estar contigo", sim caíram-me as lágrimas cara a baixo. Ele olha para mim já a chorar e diz: "Eu amei-te e sempre te amarei, irei dar-te tudo o que precisares", faz me uma festa na cara limpando-me as lágrimas e vai-se embora. São estes pequenos momentos que queria que se tornassem maiores que tudo, porque apesar de todo o sofrimento que me deste e poderás dar, eu amo-te pai.

(O texto é real.)